quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Sobre "não ser" professora

Não lembro mais quando foi o dia em que "decidi" ser professora. Quando vi, já estava em sala de aula num curso de informática para o trabalho, acompanhada de estudantes, na época, mais "velhos" que eu. Eu não sabia explicar o prazer que eu sentia falando com aquelas pessoas, tentando trocar o máximo de conhecimento sobre o conteúdo das aulas, estudando para poder saber dizer algo diante das suas questões. Talvez não tenha sido uma escolha naquele momento, mas uma condição.

[Aqui caberia um mundo de reflexões]

Tempos depois, na faculdade de filosofia (sim, isso foi uma escolha) optei pela modalidade licenciatura. Sempre tive certo encantamento pela coisa da pesquisa (e pelo que isso pode representar diante do que eu acredito que é o papel da filosofia). Mas a minha paixão, a minha "doença saudável" é a sala de aula. Acabei forjando as condições que precisava para concluir o curso - inclusive atuando em sala de aula enquanto ainda estava em processo de formação (tanto em escolas particulares, através de estágios e contratos temporários, como em escolas públicas através de bolsa PIBID, Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência).

[Outro mundo de reflexões]

Resumindo, para não me estender muito no relato e chegar ao ponto que pretendo, enfim, me formei em filosofia, fiz mestrado em filosofia e pretendo continuar na tal "carreira acadêmica". Atualmente tenho 10 anos completos nessa "brincadeira" de sala de aula, entre a educação popular e a educação básica. Recentemente, estou “me aventurando” dando aulas na "educação superior", numa instituição particular e em uma pública (como professora substituta). Sim, continuo optando por isso.

[Muitos mundos de reflexões]

Mas diante desse tempo, das diversas circunstâncias e conjunturas não há um só dia em que eu não me pergunte: o que é ser professora? E entre muitas tentativas de resposta uma se sobressai: eu não sei ou eu não sou.

[Reflexões]

Não sei, pois fomos habituados a pensar nas professoras e professores como seres que transitam entre dois supostos extremos, o herói e o vilão; o mendigo e o rei; o palhaço e o profeta; o certo e o errado; o bom e o ruim; o sábio e o ignorante; entre outros... mas eu não acredito nesses dois extremos, levando em consideração que uma coisa não precisa estar sempre em detrimento da outra. Ora, sendo assim, o professor pode ser muitas coisas, entre elas nada.

Divagações a parte, como pensar num papel para as professoras e professores, em especial diante da realidade brasileira, quando se tem uma educação formal que não comporta a realidade sociopolítica e cultural do país? Como pensar num perfil "profissional" para uma profissão hora romantizada e hora escarnecida pelas condições históricas e materiais do "serviço" docente?

Ser professora, a meu ver, é não ser. É não ser, especialmente, o que nos querem impor que sejamos: cúmplices dos vários descasos que são próprios do modelo de "ensino e aprendizagem" impostos à todxs nós cotidianamente (e não por acaso).

Ser professora é negar as tiranias institucionais, aliás, contrapor-se a elas - mesmo que seja inventando entrelinhas nos poucos espaços que nos são dados com autonomia.

Todo dia, não apenas em 15 de outubro, é dia de "não ser" professora, aos "moldes tradicionais". É declarar guerra aos vários tipos de violência que sofremos perante o Estado e as suas instituições (públicas e privadas). Afinal, a sala de aula é só uma parte do campo de atuação que, enquanto classe e parte do povo que somos, temos para fazermos o nosso "trabalho". Até que não precisemos mais "professar uma fé na profissão" para, enfim, professar a vida livre de descasos e opressões.

Avante! À luta, des-professorxs!

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